Mentiroso patológico - Quem é ele?
Você conhece alguém que por muito tempo, quase toda uma vida mente, como se fosse a coisa mais natural do mundo? No decorrer da minha vida eu já conheci algumas pessoas assim e o que mais me incomoda é que algumas dessas pessoas conviveram comigo por muito tempo, ou melhor ainda convivem.
Quando eu penso nesse assunto é como se algo dentro de mim começasse a se agitar, é uma sensação de desconforto principalmente porque estou falando sobre a minha própria vida. Quando eu era criança e mesmo na adolescência eu recebia as mentiras de uma forma até lúdica, pois eu vivia grande parte do meu tempo criando situações novas para minha vida, num mundo fantasioso e irreal. Mas eu nunca compartilhava essas histórias com ninguém, era um mundo que só pertencia a mim e aos meus amigos imaginários.
Dessa forma cresci sem entender muito bem o porquê algumas pessoas que eu amava mentiam, era tudo muito estranho até eu entender depois de adulta o quanto de mentira existia nas histórias que eu ouvia, deveriam ser reais, mas na verdade tinha muito da mentira. Hoje depois de uma longa jornada quando ouço mentiras, eu sinto um grande desconforto, é como se eu perdesse o chão e fosse novamente remetida a minha infância aonde eu ainda estava aprendendo muita coisa.
A mentira patológica (PL) foi definida pelo Psychiatric Times como uma "longa história (talvez toda uma história de vida) de mentir frequente e repetidamente sem nenhum motivo psicológico aparente ou benefício externo que possa ser reconhecido." Eu concordo plenamente com essa definição pois até hoje eu ainda não entendo por que algumas pessoas usam a mentira principalmente como forma de refúgio, eu acredito.
É importante entender a diferença entre uma mentirinha que qualquer um já o fez. Mentirinhas como aquelas que nos livram de algumas encrencas, mas não prejudicam ninguém, é diferente das mentiras criadas por pessoas que fazem desse ato parte integrante da sua vida. Essas pessoas têm atitudes que são classificadas pela medicina como mitomania, também conhecida como mentira patológica. Uma tendência duradoura e incontrolável para a mentira.
Através de estudos podemos ver que não existe um consenso real sobre o que é mentira patológica e muitas pessoas desenvolveram sua própria definição. A mentira patológica é algo que afeta negativamente muitas pessoas, é algo que atinge até mesmo grandes profissionais, que muitas vezes desconhecem a instabilidade psiquiátrica ou o distúrbio de personalidade do mentiroso. Para alguns especialistas, a mitomania também é um sintoma associado ao transtorno factício, quando o paciente produz intencionalmente sintomas físicos ou mentais de alguma doença. São casos que vão desde pessoas que fingem ter um surto psicótico ou sofrer de amnésia, até indivíduos que simulam vários sintomas e sinais de doenças físicas. O mentiroso cria um mundo em que ele vive da forma que ele acredita ser boa para ele, independentemente do que possa estar acontecendo. Ele acreditada no que ele fala.
É nesse momento que eu como terapeuta vou buscar explicações para essas atitudes que são tomadas por essas pessoas. Será que elas estão criando um mundo paralelo para viverem e serem aceitas sem muitas explicações, sou será que elas estão criando essa conduta de vida para se protegerem de algo que possa mostrar o como são fracas? Todas essas questões eu acredito que possam ser esclarecidas através de uma constelação sistêmica familiar, para trazer à tona, ou mesmo clarear aquilo que está sendo maquiado para que não haja exposição.
Mostra-se interessante o fato de que se uma mentira for descoberta não afeta o mentiroso patológico. Eles têm uma incapacidade de considerar as consequências ou mesmo medo de serem descobertos. Nesse caso é como se o mentiroso patológico acreditasse que ele mais esperto do que todos e nunca será descoberto. Ele acredita naquilo que fala, e mesmo que sua vida profissional, doméstica ou sua reputação possam estar em perigo como resultado das mentiras ele não se perturba. Estudos mostram que a culpa, vergonha ou arrependimento não afetam o mentiroso. Consequências também parecem não o afetar.
Dessa forma fica aqui uma pergunta: Por que o mentiroso se envolve em tais comportamentos?
Esse comportamento pode estar ligado a: Transtornos de Personalidade; Transtorno de Personalidade Antissocial; Transtorno de personalidade Borderline; Narcisismo; Transtornos de Comportamento; Transtorno de conduta (frequentemente diagnosticado em crianças e adolescentes que têm comportamentos semelhantes a criminosos ou que demonstram características sociopatas; Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD) e Transtorno de Conduta (TC); Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), frequentemente combinado com TOD ou TC; Egoísmo; Atitude abusiva; Comportamentos obsessivos, controladores e compulsivos; Baixa autoestima; Manipuladores, etc.
Tenho visto que para essas pessoas que sofrem com essa doença, é como se eles não pudessem deixar de contar tantas mentiras. É quase como um impulso automático para o mentiroso. Seu mundo é muito diferente do nosso mundo. Eu percebo que também há mentirosos que ficam satisfeitos em contar mentiras, são bons nisso e não se arrependem de nada do que disseram. Pois eles sempre encontram uma desculpa para justificar a mentira que contou. Percebo também que são mentirosos "habilidosos" que tentam iludir, alguns até podem querer prejudicar algumas pessoas que encontram em suas vidas.
As pessoas que eu me referi no início do texto não chegam ao extremo de ficarem mentindo para poder prejudicar o outro, mas noto com facilidade que elas mentem como forma de não se exporem, uma maneira de não serem cobradas por nada e manterem atitudes que parecem agradar a todos. É dessa forma que vejo essas pessoas e acredito mais ainda que essas pessoas se procurassem ajuda na constelação, poderiam sair desse vício que acaba por entristecer as pessoas de convívio próximo.
Outra nota sobre as pessoas que sofrem esse transtorno, diz respeito ao transtorno de personalidade antissocial (ou sociopata). Esses sociopatas também contam verdades de maneiras que induzem a perspectivas incorretas. Em outras palavras, eles dizem a verdade de maneira enganosa para fazer com que as pessoas vejam as coisas de maneira incorreta, como se fosse uma maneira de iludir. Tais indivíduos gostam e obtêm muita gratificação de manter as pessoas confusas e acreditando em suas histórias.
Algumas vezes perguntei para essas pessoas: "Por que você apenas não me conta a verdade? Por que isso é tão difícil?" Mediante a algumas respostas, ou simplesmente ao silêncio eu passei a entender que por mais difícil que seja acreditar, não é fácil para o mentiroso contar a verdade. Ele não tem a capacidade de considerar o que você pode sentir em resposta à sua mentira (empatia).
Em algumas pesquisas que foram realizadas sugerem-se que os mentirosos patológicos não demonstram desconforto quando pegos mentindo, enquanto outros estudos sugerem que eles podem se tornar agressivos e irritados quando descobertos. Conclui-se então que nenhum mentiroso patológico é o mesmo, eles se diferem em várias atitudes. É nesse momento que volto a citar a constelação como forma de clarear, ordenar esse emaranhamento.
No entanto estudos continuam tentando entender a mente e o comportamento do mentiroso patológico. Psiquiatras e profissionais de saúde mental continuam estudando o mentiroso a fim de entender o porquê eles fazem o que fazem e como podemos proteger suas vítimas. Ainda tenho confiança de que essas pessoas possam mudar suas atitudes e voltarem a ter uma vida "normal", sem que precise de esquivar através das mentiras.
VOCÊ CONHECE ALGUÉM NESSA SITUAÇÃO?
Sophia
21/06/2020